Comprendo perfeitamente os animais que matam o cônjuge. Geralmente é a fêmea que mata o macho depois de este a engravidar, o que simultaneamente serve o propósito de ensinar a lição aos humanos e permitir a sobrevivência da espécie. E que lição é esta, mais uma daquelas que a natureza nos quer, por força*, ensinar, perguntam os leitores. Para vos explicar, vou usar um pequeno exemplo.
Considerem um rapaz. Chamemos-lhe Onurb, nome escolhido ao acaso. E imaginem que este rapaz terminou recentemente uma relação (com outra pessoa), relação essa na qual viveu momentos de verdadeiro regozijo. E viveu-os com essa outra pessoa. Certo dia, vendo que os momentos altos há muito que o iludiam, Onurb decide terminar a relação, optando pelo método não fatal conhecido como "Não és tu, sou eu", muito popular à época. Assim, a outra pessoa permaneceu viva, o que significa que Onurb teve de, contra todos os seus esforços desesperados, ser confrontado com a realidade. Ora, ser confrontado com a realidade era, para alguém tão emocionalmente jovem como Onurb, algo de verdadeiramente insuportável, já que se foi "feliz"(sic), foi porque se deixou enreder numa total ilusão do que era aquilo que o rodeava, com particular ênfase no que era a pessoa que estava à sua frente. Um pouco como uma moca de LSD, só que mais duradoura e com mais efeitos secundários.
E é assim que chegamos à parte pela qual todos esperavam. O dilema. Ora, neste caso, a questão que se põe (além de, é claro, que raio de nome é Onurb?) é, evidentemente, tem Onurb o direito de assassinar a pessoa, emuldurando assim a sua "felicidade" de modo a caber no consolo da lareira e para sempre poder carregar o peso da culpa e do amor perdido, como forma de alimentar uma sua até aí atemática vertente poética? Ou terá mesmo Onurb de se fazer homem?
O código penal não nos permite fazer esta escolha, e, pelo andar da carruagem, daqui a nada até pensar (nisso) será proibido. Contudo, e enquanto podemos, fica uma sugestão para discussão num serão de família, de preferência durante o Natal.
*por força ou à força? - fica para um próximo post.